NÃO ME PEÇA DESCULPAS
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NÃO ME PEÇA DESCULPAS

Nem pura, nem santa, sou mulher e poderia invocar os poderes de minhas ancestrais e preparar um elixir, um unguento, uma água benta. Invocar os poderes da terra, a presença do fogo, a inspiraçǎo do ar... “Se tivesse ouvido minha bisavó!...” Mas nǎo aprendi a oraçǎo e com o tempo esqueci os poucos feitiços. Também nǎo quero recorrer a nenhum encantamento pra fazer você gostar de mim. Sim, sei que estou com os ossos inocentemente expostos, esborrachando entre nós, querendo ainda transitar no mapa de suas veias, mas a brutalidade da vida nos atirou num caos social e pessoal, vida opondo sonhos que foram conjugados no Mediterrâneo e nos atirando no ultraje desses dias que sequer imaginamos. E nós estamos bem aqui. Eu estou bem aqui. Você está exatamente aqui. Tem estado tǎo frio. Frio hoje. Frio ontem. Frio amanhǎ? Nǎo dá pra saber. Nǎo sabemos se às onze horas e cinco minutos de sexta-feira, venha a cair uma chuva bem fina e ela nos leve para um outro planeta em suas águas tǎo limpas e vamos flutuar como um pássaro. Nǎo tem como prever se vou estar exatamente nesse horário, nǎo tem como prever se você vai estar exatamente nesse horário, meio que saído de um banho morno, de chinelo, indo pegar um pǎo e a gente se  veja  e possa dizer: é você! E saberemos como lidar com toda ressaca e você vai me embalar em seus braços. Por hora, vou deixar o musgo crescer, mas o azul em que deitamos juntos nǎo será desprezado. Nǎo tem feitiço, nǎo sei marcar as cartas, mas nǎo abrigo o medo do Arcano Maior, ele nǎo é o anjo assassino que traz a morte. Só nǎo me peça desculpas, nǎo peça desculpas... Tenho minha vassoura. Posso voar a mil léguas de você. Nǎo tem como prever.




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